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Disparou utilização dos seguros de saúde. Custos com sinistros sobem 33%

Os custos com sinistros de saúde estão a custar mais 60 milhões de euros por trimestre às seguradoras. As líderes de mercado explicam: crise no SNS, inflação e tratamentos atrasados pela Covid.

Os custos com sinistros em seguros de saúde aumentaram 33% no primeiro trimestre deste ano, em relação a igual período, revelam dados agora divulgados pela ASF, entidade supervisora do setor segurador e dos fundos de pensões. No mesmo período, a produção ou vendas aumentou 16%, o que significa, relacionando os dois indicadores, que a taxa de sinistralidade aumentou de 47% para 54%. As seguradoras pagaram aos segurados 218 milhões de euros nos três primeiros meses do ano, mais 54 milhões do que em igual período de 2022.

As razões são adiantadas por Pedro Correia, responsável de Operações Saúde do Grupo Ageas Portugal, que detém cerca de 28% do mercado do segmento de saúde com as marcas Médis e Ageas Seguros: “é uma combinação de diversos efeitos. Não é apenas fruto do aumento de preços dos prestadores de saúde (que ainda assim é real e expressivo), mas também por haver mais pessoas a utilizarem e a utilizarem mais vezes”, acrescentando que “além de uma maior utilização nos serviços de ambulatório, também é evidente um crescimento da atividade cirúrgica tipicamente mais severa do ponto de vista do custo”.

Os problemas com o acesso ao SNS são salientados por José Pedro Inácio, CEO da Advance Care, empresa que faz operação dos seguros de saúde a 1,3 milhões de clientes das seguradoras Tranquilidade, Lusitania, Mudum, Una e mgen – representando cerca de 17% do mercado – para além dos subsistemas da CGD e do SAMS. Diz que “precisamos de mais tempo para analisar a tendência”. “No primeiro trimestre de 2022 ainda houve momentos de lockdown devido à pandemia e ainda havia medo de algumas pessoas em recorrer a serviços de saúde”, refere.

Tal como a Ageas e a Advance Care, a Multicare nota um aumento da frequência da utilização dos segurados, “verificamos uma maior proporção de pessoas a utilizar o seu seguro e que o utilizam de forma mais frequente, quer no ambulatório, quer no internamento, sendo que neste último se verifica claramente o recurso a tratamentos e técnicas mais complexas, e caras, derivadas de um agravamento das patologias (por exemplo de natureza oncológica e cardiológica) e evolução da terapêutica para soluções mais personalizadas, como a imunoterapia, cujos benefícios económicos ver-se-ão a prazo”, confirma Ana Rita Gomes.

“Não pensamos que as pessoas estão a desistir do SNS, mas as dificuldades de acesso – que são bem conhecidas no setor público – fazem com que a população com seguros de saúde (mais de 3 milhões de pessoas) procurem mais vezes o setor privado”, comenta Pedro Correia.

Mais 300 mil pessoas passaram a estar seguras em saúde em 2022, atingindo um número de 3,35 milhões no final do ano passado. Nesse período, o preço médio do seguro por pessoa aumentou apenas 4,6%, estando em 345 euros por ano e por pessoa, ou cerca de 28,75 euros por mês, segundo dados da Associação Portuguesa de Seguradores.

O crescimento do número de segurados não pára, quer pelo difícil acesso ao SNS, quer, como lembra José Pedro Inácio, pelo crescimento no lado das empresas, a pretenderem melhorar as condições aos seus colaboradores, quer ainda pela crescente democratização dos seguros de saúde, já com ofertas de mensalidades bastante abaixo de média.

O efeito da inflação nos custos de sinistros também explica parte dos aumentos. José Pedro Inácio, Pedro Correia e a Fidelidade confirmam uma subida de preços dos serviços dos prestadores na área da saúde.

Quanto à subida dos preços dos prémios aos consumidores – a receita do setor dos seguros de saúde aumentou 14,4% no 1º trimestre deste ano – têm na adesão de mais pessoas parte da explicação. Embora cada caso seja um caso, a informação recolhida por ECOseguros aponta para que os prémios estejam a subir menos de 10% devido à inflação.

“Os seguros de saúde têm regras próprias que visam mitigar o risco”, afirma Pedro Correia. “Ainda que existam os períodos de carência e a exclusão de doenças preexistentes, muitas pessoas optam por contratar um seguro de saúde precavendo situações que possam ocorrer no futuro”, Mas, mesmo assim, verifica-se já um prazo mais curto entre a contratação do seguro de saúde e a primeira utilização do mesmo.

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